Veículo: O Jornal de Hoje

Tipo: Jornal impresso

Data: 13.12.2008

 

A saga de Del Prete e Ferrarin

 

Como uma província de pescadores marcou a história do estado e da aviação mundial

 

O que a Coluna Capitolina tem a ver com aviação? Esta relação é o tema central do livro "Os cavaleiros dos céus: a saga do voo de Ferrarin e Del Prete", produzido pela Fundação Rampa, escrito pelos pesquisadores Frederico Nicolau e Rostand Medeiros e editado por José Correia Neto, relembrando a saga de dois pioneiros da aviação em vôos sem escala entre a Europa e o Brasil, que foram parar em Touros.

O livro, que terá o seu pré-lançamento neste sábado conta a história dos pilotos Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin. Ao final desta aventura e em reconhecimento do feito, Natal foi agraciada com a Coluna Capitolina, hoje crivada no Instituto Histórico e Geográfico do RN, enviada pelo próprio Benito Mussolini, então presidente da Itália. O autor, Rostand Medeiros, conta que os pilotos receberam uma missão em nome de Mussolini, especialmente Ferrarin, que já era amigo e veterano da primeira guerra. Rostand lembra que em meado da década de 20, o presidente e líder do partido facista determinou a criação de projetos na aviação, resultando no avião Savoia Marchettl S-64, feito com o propósito de quebrar recordes. "Primeiro eles quebraram o recorde em circuito fechado, ou seja, voaram por 59 horas em círculos sobre Roma, o equivalente a 3 dias.

Em seguida, como propaganda da Itália e do farcismo, o comandante da força aérea, Ítalo Balbo, em nome de Mussolini, envia os pilotos para o Brasil, com a missão de quebrar o recorde em linha reta", relata o autor. Continuando, Rostand descreve que o segundo vôo partiu da Itália, no dia 3 de julho de 1928, às 18h15, passando pelo Atlântico e chegando ao Brasil 48h14min depois, no dia 5 de julho do mesmo ano e detentor do novo recorde. No entanto, segundo a pesquisa, com perspectiva de pousar em Pernambuco, os dois pilotos, devido ao mau tempo, se perdem, chegando a Natal e depois a Touros, com relato da passagem deles em jornais da época. "Na ocasião, o Aeroclube Nacional avisou ao governador Juvenal Lamartine, que o S-64 poderia pousar em Natal. O avião passou sobre a cidade, sendo visto por muitos natalenses, porém, como os pilotos não conseguiram identificar a linha do trem, que os levaria ao campo de Parnamirim, passaram direto sobre Genipabu em direção ao norte, como relatou um fazendeiro ao jornal A República", conta o autor.

O estudo conta que a partir daí não se teve mais notícias de Ferrarim e Del Prete, até que o telegrafista de Touros informou à capital que ambos estavam naquele município. A pesquisa da Fundação Rampa aponta que os pilotos passaram direto, desorientados e com pouca visibilidade, realizando um pouso forçado a dois quilômetros de Touros, provavelmente, por falta de combustível, o que se conhece como "pane seca". "Eles aterrissaram, danificando a aeronave, na lagoa do Mulambo, hoje conhecida na região como lagoa do avião por causa do ocorrido. Foi uma festa na cidade, com todos indo recebe-los, ainda meio desorientados falando em italiano sem serem compreendidos até que o padre local, Manoel da Costa, que falava latim, mantivesse o primeiro contato. Eles foram levados a Touros e em seguida a Natal, juntamente com a aeronave", conta Rostand. Por fim, o co-autor Frederico Nicolau adianta que após 20 dias em terras potiguares, Ferrarin e Del Prete desistem de levantar vôo com a aeronave danificada e embarcam para o Rio de Janeiro, onde eles voltam a sofrer um novo acidente, agora a bordo de um avião da Marinha do Brasil que caiu na Baía de Guanabara, no inicio de agosto de 1928.

Desta vez Del Prete falece, depois de passar alguns dias internado e Ferrarin sobrevive, retornando para a Itália. De volta ao país, ele escreve o livro "Voli per il mondo" - Vôos pelo mundo - dando destaque ao episódio potiguar, em especial ao tempo que ficou em Natal. "Eles foram muito bem recebidos aqui, tanto pelo governador como por autoridades religiosas e intelectuais como dom Marcolino Dantas e Câmara Cascudo. O entusiasmo dele no livro levantou o interesse de Mussolini pela cidade que os recebeu, e em agradecimento presenteou Natal com a coluna. Ela é feita de mármore cinza medindo 2,5 metros de altura e na época era recém descoberta do templo de Júpiter. Foi tão importante o envio que o próprio Ítalo Balbo comandou a travessia, à frente de 12 aviões e um navio destróier", relata o co-autor.